segunda-feira, 6 de abril de 2009

Killing In The Name Of

É repudiante a forma como quaisquer tentativas de fazer algo pela música que seja genuíno e intelectualmente honesto neste pequenino país redundam sistematicamente em más vontades, aproveitamento de terceiros e na mais pura e simples desonestidade. Bares, associações, promotoras, bandas... não interessa a natureza da entidade, basta que seja de alguma forma contra-corrente e que faça frente ao establishment. É uma questão de tempo, até que se vejam forçados, sem alternativas, a fechar o tasco.

Quem me conhece de perto já terá certamente ouvido da minha parte elogios para com a Amplificasom, promotora recente do Porto, que tem feito a sua quota parte por promover a boa música na Invicta, marcando inclusivamente tours inteiras de bandas que provavelmente, de outra forma, nunca chegariam aos ouvidos dos portugueses. Tudo parecia correr bem, concertos cada vez mais preciosos a acontecer em diversos locais do Porto, bandas como os japoneses Boris, os Russian Circles, os Nadja, os A Silver Mt. Zion, os Secret Chiefs 3, os Capricorns, os Pelican, ainda há dias os míticos Earth e no último fim de semana, os norte-americanos A Storm of Light. Já para não falar do promoverem um espaço para verdadeiros músicos Portugueses (notai a maiúscula, daqueles que não andam 30 anos a gravar o mesmo álbum), como os Löbo, os Catacombe, os Katabatic, os Men Eater, etc etc.

Mas chegam agora os primeiros sinais de castração. Explicam o André e o Jorge, da Amplificasom, num post que tomo a liberdade de transcrever na íntegra:

Olá a todos,

É neste dia chuvoso e triste que vos decidimos escrever, temos algumas coisas para partilhar convosco.

Como muitos de vocês sabem, a Amplificasom apenas surgiu pela enorme vontade que tanto eu como o Jorge tínhamos (e temos) em ver as nossas bandas preferidas aqui na nossa cidade, no nosso país. Quem repara na relação preço dos bilhetes/ qualidade das bandas e no facto da Amplificasom não ter qualquer tipo de apoio, fundos ou patrocínios sabe que apenas dependemos da bilheteira e que ao fim da noite, com todas as despesas e responsabilidades, seria impossível ganhar o que quer que fosse. Mesmo que ganhassemos, duvido que pagasse todo o nosso empenho e dedicação, MAS infelizmente nem todos estamos no mesmo caminho, nem todos estamos nisto pela MÚSICA.

É com revolta e frustração que vos informamos que uma tal organização prevista na lei e que se auto denomina como protectora dos direitos de autor exigiu licenças para os próximos concertos da Amplificasom. Não somos incumpridores, não queremos o mundo à nossa maneira, mas a partir do momento em que uma licença para um concerto custa mais do que o cachet da banda então é porque algo está errado e devia ser revisto. Essa tal organização privada tem uma maneira de trabalhar bastante duvidosa e apesar de ser contestada por muitos não há maneira de os fazer parar. Quem está no meio sabe que bandas como os A Storm of Light (que sábado deram um concertaço enorme), por exemplo, nunca receberão um tostão relacionado com os direitos de autor, todo esse dinheiro vai para os "chicos fininhos" deste país e sabe-se lá mais para quê. Enfim, não me vou adiantar muito mais até para não vos maçar. Quero-vos apenas relembrar que nós na Amplificasom AMAMOS E RESPIRAMOS música, estamos nisto pelo som e as bandas são sempre a nossa prioridade, simplesmente não fazemos milagres (se calhar até já fizemos alguns) e sendo assim temos algumas alterações para vos anunciar:

- Os bilhetes para This Will Destroy You terão um preço mínimo de 10€ e não 8€ como estava estipulado (lá está, temos que tirar uma licença mais cara do que o cachet e ao mesmo tempo não aumentar muito o preço pois vocês não têm culpa). Quem já reservou, sintam-se livres para cancelar, quem ainda não reservou e tenciona ir então reservem-no o mais breve possível.

- Nós e a Lovers decidimos cancelar o concerto de Jarboe + Black Sun. É impossível garantirmos todas as condições que alguém como a ex-Swans merece e depois ainda pagarmos a treta do costume. Esqueçam, neste campeonato não dá.

- Desde a passada quinta-feira que temos confirmado um daqueles concertos pequenos mas gostosos para o dia 5 de Maio. Com a desmotivação que estamos, hoje não teríamos acordado trazê-los cá nem marcado cinco datas ibéricas, mas agora já lhes demos a nossa palavra e contamos convosco para que corra bem. É uma banda de pós-metal da Relapse, daremos mais novidades no blog dentro de dias.

- É provável que o concerto dos suecos Kongh (16 de Maio) seja o último durante algum tempo. Estamos cheios de ideias para o futuro, projectos com malta com a qual nos identificamos e até temos concertos já confirmados para Outubro, mas hoje sentimo-nos amargos e traídos depois de tudo o que temos dado e feito pela música ao vivo nesta cidade. Bem, logo se vê...

Até breve.

Abraço,
André e Jorge (Amplificasom)

Perdoem-me a amargura e o mau feitio mas sinceramente, será que este país merece outra coisa? Para merecer teria de haver uma consciência colectiva que puxasse para outro sentido que não este. Mas numa cultura de "laissez-faire" onde os Tonys (e os Mickaéis) Carreiras enchem Coliseus e Atlânticos, não se pode esperar qualquer grito de revolta. O que há, é demasiado lá ao fundo e prontamente abafado, como se vê.

Pessoalmente, é óbvio que qualquer respeito que tivesse pelo Miguel Guedes e os outros como ele, foi pelo cano abaixo.

Tempos negros...

1 comentário:

Fátima disse...

É realmente revoltante... Quando há alguém que tenta fazer algo pela cultura, fecham-lhe as portas.