Ano de produção: 2009
Realizador: Jonathan Mostow
Elenco: Bruce Willis, Radha Mitchell, Rosamund Pike, James Cromwell
Baseado na BD homónima, a qual devo confessar que não li e não conhecia, Surrogates é um filme de ficção científica sobre um futuro bastante provável – aquele em que deixamos de sair à rua para deixar que perfeitos e indestrutíveis robots façam o nosso trabalho “sujo”: viver. A ideia é simples. Cada um de nós teria um surrogate (substituto), que assumiria a nossa vida, controlado pelas nossas ondas cerebrais – nós seriamos o seu cérebro, sem sair de casa. Este surrogate faz tudo por nós: está suceptível a doenças, acidentes, emoções fortes, é o saco de pancada do patrão, etc. E nós passamos a vida de pijama e robe, comendo e engordando sem por um segundo pensar em ir ao ginásio, porque afinal o mundo conhece-nos pelo nosso robot: aquele perfeito ser de plástico que não precisa de lipoaspirações nem de correr na passadeira durante dez minutos por dia. E melhor. Acabaram-se as operações de transgender. Ninguém é obrigado a ser, no mundo, o que é no conforto do seu lar. Acabaram-se as tomas de hormonas e os cirurgiões plásticos (duas indústrias que concerteza seriam extintas: a farmácia e a cirurgia plástica).
Bruce Willis protagoniza este filme que levanta uma série de questões éticas e morais. É verdade que o tema não é completamente novo – vivemos com filmes sobre cyborgs desde que nascemos, especialmente a geração de 80, mas digamos que este argumento é um concentrado de todas as problemáticas. Não sendo uma narrativa-exemplar, por lhe faltar emoção e acção à trama, é interessante do ponto de vista académico. Ter um surrogate é bastante cómodo, a todos os níveis – até porque, sendo indestrutível, nós podemos saltar de prédios e levar com um carro em cima sem ir parar ao hospital, o que concerteza dará uma sensação de poder incrível. Por outro lado, e porque não há bela nem senão, é óbvio que esta comodidade se tornaria um vício. O ideal seria usar o substituto para as partes mais ingratas da vida, mas continuar a frui-la da melhor maneira. Afinal, que melhor que ter um clone pelas ruas enquanto nós, no conforto do nosso lar, podemos ser saudáveis e felizes sem preocupações? O problema é que ninguém pensou nisso. O problema é que toda a gente se habituou a que a máquina fizesse tudo, incluindo viver as suas relações amorosas. Bruce Willis personaliza este problema. Ele e a mulher perderam o filho num acidente, numa era pré-surrogates. Desde então, perderam toda a vontade de enfrentar o mundo, e adoraram os surrogates porque, afinal, se tivessem tido um antes do acidente, o seu filho ainda estaria vivo. Mas o que aconteceu à crónica insatisfação do homem? O que aconteceu ao que nos torna humanos – seres sedentos de emoções novas, novos desafios, o que nos testa e torna melhores? Os surrogates só deixam lugar à apatia, alienação, ao descuido do corpo e ao menosprezo do eu. Se existe outro melhor que eu, que se faz passar por mim, porque irei lutar?
Eis então que o próprio fundador dos surrogates percebe o erro que cometeu, e tenta reverter a situação. Canter (James Cromwell), queria dar voz aos incapacitados, eliminar as diferenças e discriminações sociais, não tornar o mundo numa massa amorfe e esquecida de viver. Mas será que é possível voltar ao passado depois de viver um futuro tão cómodo?
Veredicto: 5/10 (Não dou mais porque a acção deixa a desejar)
3 comentários:
No fundo os perfis de Facebook já fazem um pouco de surrogates, mostrando aos amigos aquilo que não temos tempo ou vontade de lhes mostrar em pessoa.
Ganhastes Fati. Voltemos à carga. Prla! Tal como a Fénix, também este blog deverá ressuscitar com nova aparência! Mãos à obra!
(por falar nisso, metaleiros, que tal correu a fatídica noite de 31?)
(bem boa! review segue dentro de momentos)
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