Foram os "alternativos" que apareceram: os rockabillies, os mods, os bairristas e os intelectuais. A noite estava cheia e o calor apertava no atraso da banda. Os lugares escasseavam e a vista para o palco parecia inferior ao que viria a ser.
Entrou. Sim, Manuel Cruz e seus cúmplices entraram no edifício. Sentaram-se desprovidos de ego, lado a lado. Manuel no meio com as palavras. Todos tocavam tudo: guitarras, baixos, xilofone, violinos, banjos, bateria, sintetizadores em abundância e um serrote de uma drogaria qualquer.
Da mistura balançada entre os devaneios digitais de um homem e uma música orgânica, a metamorfose dos ouvintes era palpável. Com um equilíbrio entre a produção de sons sintéticos nos seus teclados e uma complicada consonância rítmica imperceptível ao leigo, Manuel Cruz e comparsas introduziram-nos a uma noite com uma das últimas bandas que comercializam arte no seu estado puro.
Nunca tinha ouvido um concerto tão particular. Durante uma hora e meia, foram tocadas por volta de quarenta músicas de 1 ou 2 minutos. Umas exploravam o conceito de ritmo enquanto força básica de movimento. Outras experimentavam com a noção de tempo e compasso enquanto lei musical. As melhores exploravam a alma pueril de um poeta sozinho no palco.
A melhor maneira de descrever o que é estar num concerto de Foge, Foge Bandido é pedir para imaginarem que se trata de um autista a tocar. Mas que o seu autismo é como uma aura que à medida que os ruídos e os sussurros se transformam em música, se alastra e nos engloba a todos.
Aos poucos vamos percebendo o que aquela linguagem significa. À medida que o concerto avança, deslindamos a gramática e entramos no mundo orquestrado de Manuel Cruz. Não tanto o rockeiro de Ornatos Violeta, mas sim o poeta que sofre, experimentando, testando os limites do que é, de facto, a música.
8 comentários:
oh paaaaaaaa, deva ter ido!!
um poeta em palco, mesmo! e isto é once in a lifetime, que ele não gosta de dar concertos, segundo ouvi...
não gosta mesmo! são só 4 no país inteiro, este ano...
...também ninguém o obriga.
Que fixe! Que fixe!!!!
E andas a escrever cada vez melhor, oh Francisco Maia
por acaso tb devo dizer que qd comecei a ler este post pensei "isto está jornalisticamente mm giro". bom lead :P
verdade! a descrição do público está mesmo gira! já tinha imaginado que seria um concerto de malta alternativa =)
hahaha a culpa é toda vossa, oh 3 marias! são a minha única fonte de leitura nestes tempos que correm!
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