quarta-feira, 10 de junho de 2009

In Loco: Foge, Foge Bandido no Cinema S. Jorge

Foram os "alternativos" que apareceram: os rockabillies, os mods, os bairristas e os intelectuais. A noite estava cheia e o calor apertava no atraso da banda. Os lugares escasseavam e a vista para o palco parecia inferior ao que viria a ser.

Entrou. Sim, Manuel Cruz e seus cúmplices entraram no edifício. Sentaram-se desprovidos de ego, lado a lado. Manuel no meio com as palavras. Todos tocavam tudo: guitarras, baixos, xilofone, violinos, banjos, bateria, sintetizadores em abundância e um serrote de uma drogaria qualquer.

Da mistura balançada entre os devaneios digitais de um homem e uma música orgânica, a metamorfose dos ouvintes era palpável. Com um equilíbrio entre a produção de sons sintéticos nos seus teclados e uma complicada consonância rítmica imperceptível ao leigo, Manuel Cruz e comparsas introduziram-nos a uma noite com uma das últimas bandas que comercializam arte no seu estado puro.

Nunca tinha ouvido um concerto tão particular. Durante uma hora e meia, foram tocadas por volta de quarenta músicas de 1 ou 2 minutos. Umas exploravam o conceito de ritmo enquanto força básica de movimento. Outras experimentavam com a noção de tempo e compasso enquanto lei musical. As melhores exploravam a alma pueril de um poeta sozinho no palco.

A melhor maneira de descrever o que é estar num concerto de Foge, Foge Bandido é pedir para imaginarem que se trata de um autista a tocar. Mas que o seu autismo é como uma aura que à medida que os ruídos e os sussurros se transformam em música, se alastra e nos engloba a todos.

Aos poucos vamos percebendo o que aquela linguagem significa. À medida que o concerto avança, deslindamos a gramática e entramos no mundo orquestrado de Manuel Cruz. Não tanto o rockeiro de Ornatos Violeta, mas sim o poeta que sofre, experimentando, testando os limites do que é, de facto, a música.

8 comentários:

i disse...

oh paaaaaaaa, deva ter ido!!

Fátima disse...

um poeta em palco, mesmo! e isto é once in a lifetime, que ele não gosta de dar concertos, segundo ouvi...

Francisco Maia disse...

não gosta mesmo! são só 4 no país inteiro, este ano...

prla1983 disse...

...também ninguém o obriga.

mchiavegatto disse...

Que fixe! Que fixe!!!!
E andas a escrever cada vez melhor, oh Francisco Maia

i disse...

por acaso tb devo dizer que qd comecei a ler este post pensei "isto está jornalisticamente mm giro". bom lead :P

Fátima disse...

verdade! a descrição do público está mesmo gira! já tinha imaginado que seria um concerto de malta alternativa =)

Francisco Maia disse...

hahaha a culpa é toda vossa, oh 3 marias! são a minha única fonte de leitura nestes tempos que correm!