quinta-feira, 23 de abril de 2009

Livros Que Deram Um Filme

Adaptar livros a filmes é algo já com muitos anos de uso (e abuso) merecendo até uma categoria própria em muitos prémios anuais. Esta parece-me ser no entanto uma questão algo melindrosa e sempre aberta a polémicas e discussões. Um pouco de simples combinatória:
  • Não gostei do livro, gostei do filme. (raro)
  • Não gostei do livro nem do filme. (menos raro)
  • Gostei do livro e do filme. (acontece)
  • Gostei do livro, não gostei do filme. (de longe o mais comum)
É para mim uma típica questão de suporte: o livro deixa o world building à imaginação do leitor e eu, como leitor, imagino sempre de todos o mundo que mais sentido faz para mim; o filme enfia-nos, por inerência, uma interpretação visual e estética pela goela abaixo. No fundo, a razão mais citada pelos músicos que não gostam de videoclips, argumentando que preferem deixar a interpretação da música ao critério do ouvinte. Estes músicos, jogam (e bem, diria eu) à defesa. Os escritores, têm essa defesa de barato.

Claro que se tivermos um bocadinho que seja de bom senso e formos despojados de qualquer tipo de fundamentalismo/fanatismo, bem podemos dar uma hipótese justa a um filme que adapta um livro, se medirmos bem as devidas distâncias, em especial a desvantagem que citei acima. Por outro lado, um bom livro mexe-nos com a cabeça mas um excelente livro consegue mexer também com o coração. E quando assim é, a tal capacidade de nos distanciarmos e avaliarmos racional e friamente torna-se cada vez mais utópica.

Em jeito de ilustração, aqui ficam alguns exemplos da minha opinião pessoal em relação a meia dúzia de conhecidas adaptações:


High Fidelity
Stephen Frears (Dirty Pretty Things, The Queen) pegou no romance bem british de Nick Hornby e deu-lhe um spin americano. A Londres do livro passou a Chicago na tela e funcionou na perfeição: um atestado à beleza dessa cidade de design, perfeita enquanto backdrop e um atestado à universalidade da música: works everywhere.


The Da Vinci Code
Dan Brown parece escrever já a pensar no que vai embolsar na venda para argumento de filme, mas também é preciso um grande talento para isso. Neste caso, o Robert Langdon do ecrã não consegue empolgar metade do seu congénere do livro. O corte à Santana Lopes também não o favorece, e nem a Audrey Tatou safa esta trapalhada. Fail!


The Godfather
O original de Mario Puzo é um romance com uma textura riquíssima e nem imagino a obra hercúlea que terá sido pegar nisto e fazer um filme. Só um realizador do calibre de Francis Ford Coppola poderia estar à altura, embrenhando-se na adaptação fiel com uma dedicação ímpar conforme ficou documentado no disco extra da colecção DVD/BluRay. Junte-se a isto um cast de luxo e sobretudo um Marlon Brando no pico e o resto é história.


Gone Baby Gone
Já tive oportunidade anteriormente de malhar no filme e tecer os mais rasgados elogios ao livro. Ben Affleck tomou as maiores liberdades no filme que fez baseado na obra prima de Lehane. Para mim, foram demasiadas e reduziram a estória à coisa mais insípida que podia imaginar. Mas como o mundo todo pensa diferente de mim, diria que o mundo todo não pode estar errado, não é?


The Lord of the Rings
À semelhança de The Godfather, também adaptar a obra prima da fantasia de J.R.R. Tolkien ao cinema é uma tarefa gigantesca e cheia de perigos e armadilhas (embora não tantas, claro, como Frodo teve de enfrentar para jogar fora o anel). E também aqui só um realizador talhado para se meter num projecto até à passação total poderia alcançar o sucesso. Sei que esta opinião é discutível, mas para mim a trilogia como um todo retrata de forma muito fidedigna o livro. Senti-me lá, tal como no livro, mesmo com a agravante de ser um mundo fictício. E mesmo retirando algumas personagens à estória (lamento principalmente a ausência de Tom Bombadil, pelo mistério que encerra em si), Peter Jackson conseguiu que a magia permanecesse.


The War of the Worlds
Ai, o que o senhor H.G. Wells se deve ter revolvido na campa. Esta é daquelas adaptações que põe e dispõe, sem saber o que está a fazer e não deixa nada no sítio. Nem Dakota Fanning, nem Tom Cruise, nem mesmo Tim Robbins conseguem salvar uma adaptação no mínimo sofrível. Mr. Spielberg, what were you thinking? Fail! Fail! Fail!


E os nossos caríssimos leitores, não quererão juntar as vossas considerações à lista? Sei que há aí muito boa gente com muito mais e melhor para dizer sobre isto do que eu alguma vez poderia almejar. Fire away!

8 comentários:

Unknown disse...

Bom post. Por acaso também já abordei este assunto (cinema vs livros) várias vezes, uma vez das quais aqui - http://ohomemquesabiademasiado.blogspot.com/2007/12/livros-e-cinema-afinidades-selectivas.html

Fátima disse...

Great post :) Não costumo gostar das adaptações, acho que sou muito casmurra. Não gostei do Watchmen, do Ensaio... Agora está para sair o "Lovely Bones", vamos ver.

prla1983 disse...

E temos sempre o caso paradigmático do 2001: A Space Odyssey em que o ovo e a galinha são feitos ao mesmo tempo e em colaboração, por esses dois génios infelizmente já desaparecidos: Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick.

Francisco Maia disse...

Fight Club e Fear and Loathing in Las Vegas. o Primeiro é melhor o filme que o livro e o segundo é "Gostei do livro e do filme. (acontece)"

mchiavegatto disse...

Ah!
Eu gostei.. do post!*

Fátima disse...

Alguém já viu o Choke, do mesmo autor que o Fight Club? Para decidir se vejo ou não :P

Enolough disse...

Solaris é um bom livro e a versão do Soderbergh é boa, gostei dos dois. Ainda não vi o Solaris do Tarkovsky. De qualquer das formas os filmes nunca podem ser como o livro (neste caso) porque o livro é praticamente inactivo, não dá movimento nem acção, logo não dá cinema.

Mas deu e bem.

prla1983 disse...

Good point, não me lembrei do Solaris, ainda que tu sejas a única pessoa que eu conheço que realmente gosta daquele filme. Eu não desgostei. Também não morri de amores.