Realizado Por: Woody Allen
Com: Javier Bardem, Penélope Cruz, Scarlett Johansson, Rebecca Hall
IMDb
Mais que não seja, "Vicky Cristina Barcelona" foi a oportunidade para Javier Bardem voltar a usar um corte de cabelo decente, depois da partida que os irmãos Coen lhe pregaram no brilhante "No Country For Old Men", grande vencedor dos Óscares do ano passado. Além disso, é mais um exemplo da versatilidade de Bardem, bastando recordarmo-nos, por exemplo, de "Mar Adentro" ou mais recentemente de "Love In The Time of Cholera". Este espanhol, natural das Canárias, já não é particularmente novo nestas andanças mas só recentemente parece ter dado o salto definitivo para o estrelato e ameaça tornar-se numa referência incontornável do cinema contemporâneo.
Mas voltemos a "Vicky Cristina Barcelona", que já venceu o Globo de Ouro para melhor filme musical ou comédia este ano, assinalando mais um sucesso do recente comeback Woody Allen. Confesso que deste regresso apenas vi "Scoop" e confesso também que não lhe achei a mínima piada. Se é verdade que sou um adepto confesso, por exemplo, do humor de "Seinfeld", não é menos verdade que não sou particularmente apaixonado pelo graças de Allen.
Talvez por isso tenha gostado bastante mais de "Vicky Cristina Barcelona" pois os apontamentos de humor são esparsos e funcionam, não deixando por isso de ser um filme quase sempre bem disposto. Scarlett Johansson, aqui no papel de Cristina, continua a ser o denominador comum dos novos filmes de Woody Allen, tendo falhado apenas "Cassandra Dream". Nova nestas andanças é Rebecca Hall (Vicky) que se junta a Cristina para passar dois meses de verão em Barcelona. Está justificado o título do filme.
Como percebemos rapidamente, Vicky é mais responsável que Cristina, ou pelo menos acha que sim. Está a estudar em Espanha, para o seu mestrado, e tem o marido à espera em New York para casar assim que regressar a casa. Cristina é a eterna sonhadora, que segundo a própria não sabe o que quer, apenas o que não quer. Os primeiros 15 minutos de filme podiam ser os primeiros 15 minutos de tantos outros filmes que começam com a mesma permissa, mas o que distingue "Vicky Cristina Barcelona" é a forma como Juan António (Bardem), um pintor divorciado, aborda Vicky e Cristina à mesa de um restaurante num dos jantares tardios em Barcelona. O teor da proposta de Bardem é um clássico instantâneo.
Tudo o que se passa nestes dois meses é digno de uma fantasia, a começar por Bardem que é demasiado interessante para ser verdade. Todos os personagens sofrem de um desequilíbrio qualquer, mas destes, afinal de contas, todos sofremos. As coisas tornam-se realmente divertidas quando a psicótica ex-mulher de Juan Antonio, Maria Elena (numa grande interpretação de Penélope Cruz que me reconquistou desde que vi "Abre Los Ojos"), entra na jogada e temos a oportunidade de presenciar o desenrolar fugaz de uma relação que só tem estabilidade, ainda que momentânea, se for a três.
Bardem, em todo o caso, é o Dom Juan perfeito: faz amor com três mulheres diferentes em poucos dias sem proferir um único logro, um único engano, uma única mentira. A sinceridade é aliás um dos pontos dominantes deste filme. Todos os diálogos são, também por isso, bastante cativantes e o ritmo do filme é quase perfeito. Não há aqui nada de transcendente, apenas divertido de seguir. "Vicky Cristina Barcelona" é um filme bem giro mas tenho muitas dúvidas que seja material para conquistar realmente um Globo de Ouro, independentemente das excelentes interpretações nele contidas.
Mas haverá melhor cidade para aventuras amorosas que Barcelona no Verão?
Veredicto: 7/10
4 comentários:
A essa última pergunta respondo: Residência espanhola ;)
Quanto ao filme, não vi, mas gostava muito de ver. Este regresso de Allen tem sido agradável, mas não genial. No entanto sou grande fã dos seus tempos aureos.
Este é um dos filmes deste ano que mais quero ver... Até o poster me parece muito bom...Afinal está lá tudo. Javier Bardem como o objecto do desejo, a loucura da personagem de Penélope e a passagem furacão da Cristina. Pela forma como descreves o filme, só me dá mais vontade de ver. Mas claro que deve ter algumas coisas "fora", ou não fosse de Allen. Também prefiro os tempos "antigos", mas gostei muito Match Point! O Scoop e o Cassandra Dream é que já não correram muito bem...
A fã incondicionalíssima deste senhor espera desesperadamente pelo filme. Ele é a personificação da genialidade cinematográfica. E não, não sou suficientemente aculturada na área para fazer tal afirmação, mas tenho a certeza que não há, nenhum outro que o possa destronar da minha hierarquia mental.
No Scoop, a interpretação dele como "Splendini" - Sid, o discurso dele (lembro-me da analogia sobre a cor azul,adorei), o jeito desajeitado, é tão dele, tão insuperável: "I was born into the Hebrew persuasion, but when I got older I converted to narcissism".
Ah e o filme faz pequenas referências a alguns filmes dele, que me passaram despercebidas, quando o vi.
O Sonho de Cassandra foi, uma desilusão não diria, mas algo diferente do que eu esperava... Colin Farrel está irrepreensível e quem recriaria desta maneira a tragédia? Com tanto simbolismo e aquela ironia quase poética...
Chateiam-me as críticas menos boas e a insistência na suposta decadência de Allen. Por outro lado, a ver se toca bem no fundo, porque os críticos escrevem sempre contra as marés, assim quando estiver nas solas dos críticos, essas pessoas esquisitas vão voltar a valorizá-lo. Ele merece ser recordado e ele aproximava-se, como a Tracey costuma dizer, "duma morte de velhice sem nada de espectacularmente chocante para referir". Mas não faz mal, porque quando ele "é mau", atrevo-me a dizer que continuará a ser melhor do que 70, vá 80% dos realizadores que para aí andam.
P.S.- poças... estiquei-me!
Eu adorei! Despachem-se a ver pra comentarmos!!
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