Realizado Por: Michael Moore
IMDb
Michael Moore é das mais conhecidas vozes dissidentes da América, muito por culpa da exposição que tem tido através dos seus vários documentários. Normalmente obcecado por mostrar aos mundo os horrores perpetrados pela administração Bush (Fahrenheit 9/11) ou dos norte-americanos contra si próprios (Bowling For Columbine), em "Sicko" Moore faz uma incursão pelo sistema de saúde dos Estados Unidos, onde reinam as seguradoras e onde o lucro é suficientemente importante para justificar que ande a morrer gente sem necessidade.
Há algo comum em todos os documentários deste estilo onde a ideia é chocar-nos, mexer com os nossos sentimentos, surpreender-nos e se possível fazer-nos revoltar. Ou qualquer combinação destes. O grande problema de inúmeros activistas, embora bem intencionados, acaba muitas vezes por ser o extremismo, uma certa cegueira pelas ideias que ardentemente defendem e cujo tiro acaba por sair pela culatra. O mundo está cheio de exemplos destes, onde boas ideias acabam por terra exclusivamente por falta de bom senso.
Moore não se enquadra propriamente nesta descrição mas os seus documentários têm a tendência para me deixar de pé atrás pela maneira americana que usa para criticar a... maneira americana. Embora adopte à primeira vista uma atitude de investigação imparcial, Moore é demasiado sensacionalista na forma como nos mostra o resultado das suas diligências, mesmo compreendendo que o objectivo é chocar e mobilizar.
Há factos inegáveis em "Sicko", provavelmente a esmagadora maioria deles e claramente são suficientes para nos sensibilizar e nos fazer crer que algo está muito podre no reino da América. No entanto, da mesma forma que nos anúncios de produtos de beleza em que vemos um "Antes" e um "Depois" o antes é particularmente desleixado e o depois é particularmente cuidado, também "Sicko" sofre dessa assimetria na forma como pinta a América como um matadouro e basicamente o resto do mundo como um paraíso onde tudo é a borla e qualquer um, com uma mão no bolso, tem pelo menos 3 LCDs em casa e 2 BMWs à porta. Para quem vive fora da América, pelo menos, acreditar piamente nos factos de Moore é quase uma questão de fé. Da América apenas o mau é mostrado, do resto do mundo apenas o bom.
Não deixa de ser curioso como a digressão mundial pelas várias realidades que o realizador nos apresenta termina precisamente em Cuba. Não obstante a estupidez néscia e inútil que é ter levado consigo um grupo de voluntários do 11 de Setembro gravemente doentes para serem tratados na base de Guantánamo (!) - que obviamente não funcionou - a passagem por Cuba propriamente dita é interessante até porque é do domínio público a categoria dos cuidados de saúde em terras de Fidel.
Que as coisas na América levam caminhos misteriosos, já todos sabíamos. Mas não nos queiram fazer crer que tudo são rosas nos outros lugares. "Sicko" é um bom documentário e sobretudo tecnicamente bem executado, como é apanágio de Michael Moore. Sofre apenas de um astigmatismo que incomoda e que acaba por funcionar um pouco contra a própria mensagem.
E agora que Bush está fora de cena - ou mais ou menos isso - será que Obama vai levar Moore ao desemprego?
Veredicto: 6,5/10
3 comentários:
são documentários que lembram cheeseburgers...
para consumo das massas, incluíndo os que convictamente dizem que cheeseburger é mau e não se deve comer.
o exagero e fanatismo não convencem os mais exigentes e acabam por ter o efeito contrário (se há alguém tão empenhado em dizer mal é porque algo de bom deve haver para esconder)
Algumas das atitudes de Moore levam-no a estragar a credibilidade que se lhe podia dar, o que é um mau serviço para a américa, para a verdade (seja lá o que isso for) e para o mundo em geral. falta-lhe ser mais isento, mais equilibrado e menos espalhafatoso. Tanto marketing à volta de um documentário que pretende ser revelador das verdades que o "sistema" quer esconder acaba por colocar dúvidas - fará o revelador do "sistema" parte do sistema?
é como as teorias "moon hoax", com tanto fanatismo de um lado e de outro acabamos por ficar sem saber a verdade e entramos no jogo do "sistema"...
[hoje estou rabugento, deve ter sido algo que comi ao pequeno-almoço]
Sinceramente já me irritam as críticas sempre tão acérrimas a Moore. Concordo que há um exagero, e o estilo dele está lomge da perfeição, mas a verdade é que toda a gente já dá esse desconto. He makes a point. Chega às pessoas, faz com se discuta. E toca na ferida. Espero que não deixe de continuar a fazer filmes
Compreendo que seja complicado mostrar sempre o bom e o mau de todas as partes envolvidas. Mas mostrar só o mau do que se ataca - ou denuncia - e o bom do que se defende, a mim, pessoalmente, deixa-me pouco convencido da validade de todo o argumento.
Mas longe de mim pensar que há um bom sistema de saúde nos Estados Unidos... porque claramente não há.
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