Realizado por: Clint Eastwood
Com: Clint Eastwood, Cristopher Carley, Bee Vang, Ahney Her
IMDb
É admirável que o actor que muitos de nós instantaneamente associam com o loirinho sem nome de Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo leve já 53 anos de carreira como actor, os últimos 37 dos quais também como realizador e que resultaram em dois Óscares para Melhor Realizador e Melhor Filme (Unforgiven e Million Dollar Baby) sem esquecer outras tantas nomeações nas mesmas categorias (Mystic River e Letters From Iwo Jima). Eastwood é um daqueles senhores incontornáveis do cinema contemporâneo, cujos filmes privilegiam a estória em detrimento dos adornos, a substância em desfavor do estilo, muito na linha de algumas referências orientais, lembrando-me de repente de alguns filmes de Takeshi Kitano como Brother ou Hana-Bi. Todos os movimentos são em prol da estória que Eastwood nos quer contar.
É também admirável que aos 79 anos de idade Eastwood volte a desempenhar funções de realizador, produtor e também de actor, 4 anos depois do brilhante Million Dollar Baby. Desta vez Eastwood é Walt Kowalski, veterano da Guerra da Coreia, que fica viúvo imediatamente antes do início da estória que nos contam e cujo ódio e preconceito o levam a desprezar todos os que vivem à sua volta, incluíndo a sua própria família. A sua mais importante possessão, fruto dos anos que trabalhou numa fábrica da Ford, é um Gran Torino de 1972, que ele passa longos momentos a limpar e polir no jardim à frente da sua casa e no qual foi ele próprio, segundo conta, que montou a coluna da direcção.
Não é por isso de espantar que a sua atitude perante os seus vizinhos Hmong não seja propriamente a melhor. Na verdade, ele detesta-os, mais ainda quando um deles, o sossegado Thao, tenta roubar o seu Gran Torino. Quando Walt percebe que a mão de Thao foi forçada por um gang de asiáticos que o tentavam iniciar nas suas actividades, esse acaba por ser mais um elemento no processo de conversão de Walt, que começa a perceber que tem mais em comum com aquelas pessoas que moram ao lado do que inicialmente gostaria de admitir, algo que é acentuado a cada exemplo de egoísmo e materialismo da sua própria família.
Daqui para a frente não estarei a revelar nenhum segredo se disser que o objectivo de Walt passa a ser transformar Thao num homem à séria - pelo menos pelos seus padrões... - com capacidade de enfrentar os perigos da sua comunidade e defender-se a si próprio. A partir daqui, claro está, temos em mãos um conto clássico de como Walt abraçou estes Hmong e como estes o abraçaram a ele, contra todos os preconceitos e como os problemas deles passaram a ser também problemas dele.
Aborrecido? Nem por isso, porque Eastwood sabe realmente contar uma estória e Gran Torino não resulta num único momento de enfado. A resolução do filme é rápida e atípica e, não sendo incompreensível, tem o potencial para nos deixar um pouco frios. Talvez ajudado por isso, mentiria se dissesse que é um filme tão satisfatório como Million Dollar Baby ou Mystic River, apesar de partilhar alguns elementos de estilo com ambos. Na verdade, Gran Torino é mais uma pérola na forma de uma estória anti-racista que fica muitíssimo bem na folha de serviço de Eastwood.
Veredicto: 7,5/10
1 comentário:
gosto muito do senhor Clint, da maneira como filma nua e cruamente dramas e temas fortes. depois de "a troca", estou ansiosa por este
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