domingo, 28 de junho de 2009

A Mãe de toda a melancolia

A nossa leitora assídua e blogger convidada i volta a contribuir para o 24hz, desta vez com uma visão pessoal da apresentação do último trabalho de Rodrigo Leão.

A Mãe de toda a melancolia

Noite de quinta-feira é já um bom pretexto para sair de casa rumo ao Bairro Alto, onde ainda se vêem as típicas decorações de Santo António. O calor convidava a uma cerveja fresquinha e a bares de porta aberta, mas se mesmo assim não estivesse convencida, um motivo maior fez-me sair de casa: um convite para o lançamento de A Mãe, o mais recente trabalho de Rodrigo Leão. Foi uma estreia no Frágil, esse bar/sala de concertos que agrupa seguranças à porta. Passando a barreira, a sala abarrotava. Encostei-me ao palco a guardar lugar. O palco era pequeno demais para as muitas cadeiras que lá aguardavam.

O momento que se seguiu eu não esperava. Conhecia as músicas, o CD tinha chegado há dias ao jornal. Conhecia a vocalista, amiga de uma amiga e conhecia também as expectativas, altas. Mas quando Vida Tão Estranha começou, violoncelo, violino, acordeão, piano (onde lá atrás escondido tocava o Rodrigo Leão himself) e bateria criaram uma poderosa onda que me bateu de frente. A voz da Ana Vieira, talhada ao milímetro para aquele som, criou-me primeiro um arrepio nos braços, depois uma dormência nos dedos e finalmente um acumular de lágrimas nos olhos. Um exagero, dirão. Garanto que não.

Seguiu-se A Corda, também em português e Sleepless Heart, em inglês, a língua que menos me pareceu condizer com a música orquestral, doce e angustiada de Rodrigo Leão. Ainda assim, cantarolei-a durante o dia seguinte inteiro. A Estrada e A Comédia de Deus foram as instrumentais "do meio" que não foram de todo o momento "chato" do concerto, como é habitual. Fílmicas, basta fechar os olhos e estamos no cinema.
Canciones Negras tornou-se a minha música preferida do álbum, com a Ana a dar cartas num espanhol com garra, alma e dor. Nessa altura já não sabia bem se o que sentia era o pulsar da vibração da música no meu corpo ou o meu coração que batia depressa e os meus olhos que novamente lacrimejavam, emocionados. Palmas e gritos merecidos.

No Sé Nada escondia a graça de sabermos que a Ana não estava muito certa de saber a letra (confidenciou aos amigos antes do concerto), já que era uma canção falada, que começava com um sorridente "Querido amigo". Se até aqui havia cépticos (duvido que os houvesse) Ya Skaju Tebe deu cabo deles. Ana não fala russo mas contou com a ajuda da violinista dessa nacionalidade para cantar esta canção da qual não entendemos uma palavra, mas acompanhamos com ritmo. O concerto melancólico acaba assim em festa.

O Frágil teve que ser forte para tantas ovações.

10/10


Aproveito para pedir desculpa aos leitores e à i por este texto ser publicado uma semana depois de ter sido escrito mas estive longe de um computador neste espaço de tempo.

1 comentário:

Francisco Maia disse...

que inveja. Só tu para bateres no ceguinho que está no pós-operatório (esta é para ambos i e eno)

nunca vi ao vivo e por este andar nunca verei o Sr. Cinema a tocar paisagens...