domingo, 3 de maio de 2009

Grey Daturas + Caveira @ ZDB


Sábado à noite, Bairro Alto a rebentar pelas costuras e três australianos na ZDB a dar revolução sonora ao pessoal. Foi mais ou menos assim que se passou ontem à noite, não sem antes o duo Português Caveira ter dado início às hostilidades.

Tomaram o palco de repente era já quase meia noite. Pedro Gomes pegou na guitarra, virou costas ao público e lançou-se em 40 minutos de distorção feia, porca e má. Qualquer semelhança com ritmo era quase sempre ilusória e a dissonância foi a palavra de ordem. No fundo, uns três quartos de hora de desvario que, para alminhas atormentadas como a minha e as de outros como eu, seria provavelmente auto-suficiente.

Mas os Caveira são também Joaquim Albergaria na bateria (minimalista, diga-se) que dá o ritmo e a imaginação para que em suma a coisa realmente resulte. Joaquim suou a bom suar, mas trouxe pedaços de bom stoner e bom sludge, sempre não mais que um teaser curto, porque rapidamente o improviso seguia para outro lado. Construções e desconstruções incessantes, em que cada um dos músicos alimentava-se do que o outro lhe dava num loop de feedback positivo que prendeu a atenção dos presentes. Só foi pena a puta da atitude - bem portuguesa - de mal se dignarem a assistir ao concerto da banda principal da noite. Ficava-lhes bem.

Banda essa que era obviamente os Australianos Grey Daturas. A cerca de 9000 km de casa, tendo tocado em Barroselas na noite anterior, notava-se neles o cansaço da estrada mas a boa disposição, humildade e vontade de tocar não se desvaneceram por isso. Com uma bancazinha de merchandise recheada de coisas boas (incluíndo splits em LP e 7" e mesmo minúsculos business CDs com artwork literalmente caseiro) e gerida pela própria banda, os Grey Daturas tocaram praticamente non-stop também eles durante cerca de 40 minutos, mostrando ser claramente um exemplo dos que ao vivo se transcendem perante o que têm registado em disco. Foram então 40 minutos do que soou a um improviso perfeitamente conseguido, em que os dois Roberts da banda alternaram na bateria, baixo e guitarra, e Bonnie - o rosto feminino da banda - debitou distorção sem parar da sua Fender Jaguar.

Ficou bem patente na ZDB que este tipo de música tem tanto de repetitivo como de variável. Repetitivo, pois são de facto muitos minutos a bater repetidamente na mesma tecla emocional. É muito drone, muito noise, muito ambiente, muito transe. Variável porque, numa observação mais atenta, esse mesmo drone está em constante mutação, nunca regressando a qualquer ponto anterior. Os Grey Daturas são notoriamente influenciados por sonoridades bem diversas - pude com eles trocar impressões sobre o quanto todos gostamos do death metal old school a la Obituary, Carcass, Pestilence, etc - e, no caso deles, o que sai desse caldo é este drone abrasivo que tão bem soou na ZDB. Foi estranho vê-los acabar de repente ao fim de tão pouco tempo, mas como me dizia o Robert baixista/baterista, "better leaving people wanting more than having them desire less".

Wise words.

5 comentários:

Fátima disse...

uau! wise words, indeed!

i disse...

e um abraço? :P

::Andre:: disse...

Ainda bem que gostaste :)
Malta porreira, excelente músicos. Os metaleiros em Barroselas ficaram bem impressionados.

Serviço público Amplificasom :P

prla1983 disse...

Venham mais destes. Muito bom mesmo!

Begoña disse...

lo único que se me ocurre decir trás haber leído tus trés primeros párrrafos és: vaya preciosas las espaldas de Gomes