quarta-feira, 8 de abril de 2009

Deadwood: "The Testament" ~ John Grisham

Comecei a ler Grisham por acidente há mais de uma década, num dos Livros Condensados das Selecções Reader's Digest (ou seria do Círculo dos Leitores?). Não fazia a mais pálida ideia quem era este autor e ainda menos me recordo por que raio peguei naquele livro e naquela estória em particular e não noutra qualquer. Era a primeira vez que lia ficção que se passava em tribunais e à volta deles, com advogados, réus, juris e juízes e fiquei fascinado. Talvez este tenha sido o momento decisivo a partir do qual desenvolvi uma predilecção especial pelos chamados courtroom dramas. O responsável era este tal de Grisham. E eu estava a gostar disto.

Ou seja, ler Grisham é a minha versão de telenovela. Não se aprende grande coisa, há umas tramóias mais ou menos engraçadas, uns personagens interessantes. E é muito, mas muito viciante. A fórmula, pelo mesmo no que aos seus thrillers de ficção legal diz respeito, é bastante simples: uma personagem principal forte, geralmente advogado, agressivo em tribunal, com quem se simpatize com facilidade e por quem se torça ao longo dos acontecimentos. Uma série de advogados, variável em número e género, por vezes em conluio com o juíz, que constituem o "eixo do Mal" e que defendem os interesses da América capitalista. E possívelmente alguma vítima no meio que ou sofreu um acidente, ou tem uma doença má ou uma triste combinação de ambas as coisas.

Onde "The Testament" se destaca é conseguir manter o estilo page turner que sempre caracterizou Grisham ao mesmo tempo que foge marcadamente ao argumento do parágrafo anterior. E também porque tem o melhor primeiro capítulo da história dos primeiros capítulos, onde assistimos aos últimos momentos de alguém poderoso, com meia dúzia de herdeiros execráveis resultado de vários casamentos. Nada de particularmente interessante, não fosse o dito senhor deixar em testamento a sua fortuna de onze biliões de dólares. E o chato é que a fortuna vai praticamente toda direitinha para uma filha bastarda de quem nunca se ouviu falar e sabe-se lá onde ela anda. "The Testament" é então a procura pela filha desaparecida, a ganância dos herdeiros (e dos seus advogados) que afinal de contas acabam por não o ser e incidentalmente a estória de vida de um advogado que já passou por quatro desintoxicações.

É em John Grisham o livro que mais abertamente visa a temática religiosa mas não de uma forma repelente para um ateu como eu. Tudo o que envolve o testamento é interessante de seguir mas é a personagem de Nate, o advogado alcoóletra inveterado à procura de redenção que mais fascina. No fim, Grisham não consegue surpreender porque acaba a ser previsível, o que retira uma estrelinha à pontuação final. Mas não deixa de ser um bom livro, que vale a pena saborear para quem gosta de uma boa aventura e dessas coisas aborrecidíssimas que são os tribunais e estórias de julgamentos.

2 comentários:

Fátima disse...

Confesso que nunca achei muita piada a filmes sobre tribunais e coisas que tais, mas pela tua descrição este parece interessante, ou quanto muito, entretém.

prla1983 disse...

É mesmo isso: entretêm. Não se aprende nada. :)