sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Who watches the Watchmen?

Watchmen

Alan Moore e Dave Gibbons, 1986
DC Comics


Ao longo da História da BD, a Marvel e a DC Comics sempre disputaram o primeiro lugar no pódio das editoras de BDs. É praticamente impossível dizer que a Marvel é melhor que a DC, ou vice-versa, porque ambas criaram super-heróis de referência. Se a DC foi a mãe do super-herói mais conhecido, o Superhomem, e do mais enigmático e complexo, o Batman, a Marvel criou figuras fantásticas como os X-men, o Capitão América, o Iron Man e o Homem-aranha. Se há BD que pode decidir entre as titãs das BDs, será o Watchmen, editada pela DC. Esta obra, escrita por Alan Moore (V de Vingança) e ilustrada por Dave Gibbons, destacou-se do género por ter apostado no formato de graphic novel e por ter como protagonistas pessoas normais, com complexo de super-heróis.

A história de Watchmen situa-se nos anos 80, altura em que o mundo acordava todos os dias com medo de voltar a ouvir caças a sobrevoar as suas casas. Nos Estados Unidos, a população temia que Nixon declarasse guerra à União Soviética a cada momento. O clima era de tensão. Mas não só pioravam as relações entre a URSS e os EUA, como pelas ruas se intensificava a prostituição e a criminalidade. O povo norte-americano vivia não só com medo de uma iminente guerra como de sair de casa.



E quando o tapete da segurança foge dos pés, o povo agarra-se a tudo o que seja entretenimento e procura heróis. De facto, foi na altura da Guerra Fria que as noir graphic novels de Frank Miller (Sin City, Daredevil) começaram a despertar o interesse do público.

Colocando-se na cabeça da população, Alan Moore criou uma história sobre pessoas fascinadas com os super-heróis que leram na infância, como o Capitão América e o Superhomem, e que perceberam que o mundo precisava dessas figuras pelas ruas. Munidos de nomes e roupas excêntricas, salvavam o mundo dia após dia, sem voar nem lançar teias de aranha.

Os Watchmen, ou Crimebusters, eram imparáveis, tanto que deixavam a polícia frustrada e a população revoltada, por agirem acima da lei. Pressionado pela polícia e pela contestação pública, o Presidente acaba por promulgar a lei Keene, que exige que todos os "mascarados" se registem no Governo. Mas como pedir a alguém que só quer fazer o bem que deixe ser vigiada e que veja o seu trabalho ser limitado como um mero funcionário público? Insultados, a maioria dos Crimebusters acaba por se afastar da vida de super-herói.

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Anos mais tarde, surgiu uma nova geração de Watchmen, inspirados pelos primeiros. Mas o desafio que têm de enfrentar é mais pesado que a lei de Keene: um por um, os Watchmen estão a ser perseguidos e mortos. O motivo daquela "caça às bruxas" ninguém imagina...

Watchmen levanta uma série de questões morais, políticas e sociais, como nenhuma outra BD. Ao usar pessoas normais como protagonistas e questionar a liberdade dos super-heróis, entramos num mundo muito mais complexo que as aventuras do Superhomem. E numa altura em que até os superheróis são perseguidos, a quem é que nos podemos agarrar? Este é o reflexo de uma Nova Iorque arrastada para a sarjeta, suja e perdida, em que os carteiristas se tornaram violadores e os políticos são os criminosos mais temidos.

O melhor: a graphic novel termina com um dilema que deixa as mãos a tremer e a cabeça a girar.

(Spoiler)

Adrian Veidt, aka Ozymandias, um dos Watchmen, engendrou um plano genial para evitar a eminência da Terceira Guerra Mundial, durante a Guerra Fria: um monstro alienígena que destruiu metade de Nova Iorque, deixando o resto do Mundo em pânico, temendo uma possível invasão de aliens. Resultado: os Russos deram tréguas, prometendo não avançar com as tropas no Afeganistão até se perceber o que se passou em NY e garantir que o resto do Mundo não sofreria réplicas. Veidt, considerado "the smartest man in the world" percebeu que, em tempos de insegurança, os povos deitam as armas por terra e unem-se, porque sabem que precisam uns dos outros caso a mesma desgraça lhe suceda. Tudo por interesse, claro, mas é sem dúvida infalível. Ozymandias engendrou um imenso massacre "pela paz no Mundo" e emocionou-se quando percebeu que o seu plano resultara. Mas como Dr Manhattan lembrou, nothing lasts forever.

Veredicto: 10/10

1 comentário:

Carlos disse...

É, sem duvida uma das melhores coisas que já li. Já agora, seria possível fazer na Take uma página dedicada a críticas dos leitores? Eu tb escrevo crítica, mas para um jornal regional, e seria interessante poder dar visibilidade a muitos cinéfilos neste país, que escrevem bem e aumentaria a interactividade com os leitores da revista, que diga-se de passagem, já merecia uma versão em papel. Obrigado.

Carlos Duarte.