segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Before The Devil Knows You're Dead (2007)

Haverá melhor maneira de começar um filme do que com a Marisa Tomei de quatro em cima de uma cama?

Claro que há - sobretudo se não estivesse a fazer o amor com o Philip Seymour Hoffman que tem tanto de genial actor como lhe falta de sex appeal. Mas não deixa de ser um início prometedor, antevendo que estamos, provavelmente, perante um daqueles filmes sem medo de ser atrevido, cru, provocador. Puro e duro. Oops, no pun intended.

15 minutes in heaven...


Agora que as atenções estão viradas para os Óscares, vale a pena revisitar um filme que lamentavelmente passou ao lado disso há um ano, mas que interessa conhecer e sobretudo viver. Sidney Lumet (Serpico, Dog Day Afternoon) traz-nos um épico retrato da vida real que nos deixa ao mesmo tempo desconfortáveis e fascinados. Um relembrar que por vezes o que parece ser inconsequente e inofensivo acaba por despoletar uma série de acontecimentos nefastos absolutamente devastadores e impossíveis de travar.

É difícil falar de "Before The Devil Knows You're Dead" sem desvendar muita da essência daquilo que nos faz vibrar com esta estória e nos deixa colados ao ecrã durante as duas horas que esta película dura. Se não viram este filme, também não vos vou revelar mais nada. Vale a pena embarcar nesta viagem a saber zero. Se já viram, então sabem do que eu estou a falar (já dizia o outro).

Mas ainda assim há tanto para elogiar. Os irmãos são Hank e Andy, interpretados por Ethan Hawke e Philip Seymour Hoffman, respectivamente. Marisa Tomei é a mulher no meio, amante de um e mulher do outro, mas este é um triângulo que de triângulo até tem pouco, pois o enfoque não é esse. Andy acaba por saber de viva voz que tem sido enganado durante muito tempo mas a verdade é que quando acaba por saber, esse já é o menor dos problemas de ambos os irmãos.

Além das doses massivas de realismo, é inteligente a forma anacronista a la "Pulp Fiction" como os acontecimentos se sucedem. Ao mostrar-nos a mesma cena mais do que uma vez, com enquadramentos diferentes, estando mais informados que da última vez, Lumet consegue prender-nos ainda mais. O tom do filme é melodramático do princípio ao fim e o score de Carter Burwell é magnífico na forma como nunca se mete no caminho limitando-se a sublinhar o drama. Nada é apressado.

"Before The Devil Knows You're Dead" é um filme que merece ser visto, revisto, saboreado mas não há muito para discutir sobre ele para além da admiração das suas qualidades. É uma simples estória de um plano que correu mal e cujas consequências vão para além do pior pesadelo de todos os envolvidos. Hawke e Hoffman estão brilhantes no papel dos irmãos que vêem tudo desmoronar-se à sua volta e passam da confiança ao remorso total. Albert Finney faz de pai de ambos e tenho dificuldade de lembrar-me de um rosto mais crispado pela dor psicológica que o dele.

Como passou um filme destes completamente ao lado do buzz dos Óscares é algo que me intriga mas que constituiu, a meu ver, uma discussão perfeitamente irrelevante. Sidney Lumet não tem a regularidade de um Scorsese ou de um Kubrick mas não deve, a espaços, em brilhantismo a qualquer deles. No entanto, e como afirma Roger Ebert, não deixa de ser bonito que um realizador que ganhou Óscar de Lifetime Achievement, realize três anos mais tarde um dos seus maiores feitos.

Veredicto: 9/10

2 comentários:

Fátima disse...

Graças às más estratégias das nossas distribuidoras, de lançar uns filmes com altas promoções como o Bolt (é disney, claro está), e outros como coitadinhos que parecem chegar às salas por favor, esta grande produção do Lumet não teve destaque nenhum. Fico mesmo chateada quando recebo 1300 mails sobre o cãozinho da disney e nada sore bons filmes. Enfim. Este filme é fantástico, começa da maneira mais forte possível, para nos avisar que o que vamos ver não é brincadeira. E de facto angustia à medida em que os problemas se intensificam até se tornarem becos sem saída. muito bom! é de 2007 mas como só vi em 2008, considero-o um dos melhores do ano passado!

Francisco Maia disse...

sinceramente, nao gostei... achei pretensioso.